segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Interplanetária 1ª parte

Interplanetária, um história dentro de outras histórias...

1ª Parte, no asfalto:

Minha história particular começa aqui, bem antes da pedalada.
Primeiro tive de convencer a minha mulher a me dar o alvará, uma árdua negociação e até a última hora eu não sabia se iria, mas na sexta chegamos ao acordo, ufa!!! (detalhe - eu já sabia desta viagem há quase seis meses!!!)
Legal, vou pedalar com centenas de ciclistas e ciclo-ativistas para o litoral e para variar, sempre antes destas aventuras eu não consigo dormir direito, mas aproveitei a insônia para fazer as minhas compras de mantimentos para a viagem, frutas, barrinhas de cereal e os frios para os lanches e para o café da manhã reforçado.
Mas uma coisa me deixava bastante preocupado: agora estou pedalando um bike speed, não tinha uma câmara reserva para o pneu aro 700 e seria muita imprudência da minha parte ir viajar sem uma. Teria então, de conseguir comprar uma ainda antes de pegar a estrada, mas a partida da galera estava marcada para as 7:00 horas da Av. Paulista...Bem, calculei que iria haver algum atraso e que centenas de ciclistas iriam andar em um ritmo tranquilo, então resolvi sair de casa às 7:45h, fazer um roteiro passando por todas as bicicletarias possíveis no caminho da Imigrantes e encontrar o grupo no caminho.
Fiz o trajeto pensado, achei várias bicicletarias fechadas e até uma distribuidora de peças para bicicleta abrindo, que porém não tinha a bendita câmara...mas chegando no Jabaquara, achei uma salvadora bicicletaria abrindo e finalmente consegui comprar o objeto de desejo, além de dar uma regulada nos freios, pois iria descer a serra pela Imigrantes.
Só que para aumentar a minha ansiedade, os mecânicos me falaram que viram "mil ciclistas" passando por eles e já fazia meia hora!!!
Tudo OK, vou buscar o grupo, vou no gás, aliás é para isso que a bike speed foi feita, pedalar rápido em estrada!!!
Logo nos primeiros quilómetros avistei um biker lá na frente e quando cheguei nele e perguntei se estava indo para a bicicletada, descobri que o cara ( o da foto acima) estava chegando de Florianópolis de ônibus e já tinha pedalado desde a rodoviária, exclusivamente para participar do evento, é o Fabiano Faga Pacheco, nem tinha tomado café da manhã e foi um dos poucos que conseguiu chegar no litoral, depois de mais de 24 horas de aventuras, muito louco !!!
No final deixo um link para o relato da sua aventura.
Depois de mais alguns kms, alcançamos o grupo, foi lindo, centenas de ciclistas, bikers, bicicleteiros pedalando rumo ao litoral e com escolta!!!
Foto:Rodrigo Navarro
O grupo que se organizou via internet para fazer valer a lei e o direito constitucional de ir e vir, avançava compacto e ordenadamente.
Foto: André Pasqualini
Durante o trajeto, tudo seguia normal com apoio e curiosidade dos motoristas.
Porém não era esta a vontade da Polícia , que tentou várias vezes bloquear o "passeio", mesmo quando tentaram bloquear a massa na balança, com certa truculência, como se fosse água, nós escorríamos pelos vãos entre as viaturas ou indo a pé pela grama e depois pedalando. Acima a foto do primeiro grupo que conseguiu escapar do bloqueio, já no pedágio, porém metade ficou retida na balança.
Foto: Bruno Gola
Em todos os bloqueios existia uma penosa negociação, nós embasados na lei e eles na força e na determinação superior de impedir o progresso da massa, já cada vez mais agressivos e nervosos, algumas vezes empunhando armas e cacetetes, como se fossemos agredi-los com as nossas bikes.
Acima ciclistas retidos.
Foto: Fabiano Faga Pacheco
Acima a nossa heroína a ciclo-ativista mais antiga e atuante Renata Falzoni registrando e negociando. Abaixo tem um link para a vídeo reportagem dela.
Mas após desmembrarem o grupo em três partes, um na interligação, outro no pedágio e depois no Mac Donald's e aquele que ficou na balança, resolveram liberar todos para se reunirem no Km 40, abaixo dos viadutos da Interligação e a um passo da serra...mas impossível negociar.
Sendo assim, a massa foi perdendo a força e se dissipando, até dois ônibus foram arrumados, um para aqueles que gostariam de continuar a viagem e outro para os que quisessem voltar.
Concluindo, nós ciclistas e cidadãos, queriamos simplesmente ter uma alternativa para ir ao litoral pela nossa própria força, sem depender de carro ou qualquer outro meio de transporte poluente e fazer valer a lei do Código de trânsito Brasileiro Art. 58 (ver nos links), mas encontramos um enorme e dispendioso aparato policial que contava com coisa de 40 viaturas de PM, polícia rodoviária, dezenas de PMs fora os carros e homens da Ecovias, somente para impedir a nossa circulação, o que causou um trânsito de mais de 15 km na rodovia, sendo que se fosse cumprida a lei, com um pouco de simpatia e bom senso, a massa poderia ter seguido ao litoral com escolta e em poucos minutos a via estaria liberada e todo mundo feliz...
Não foi desta vez, mas continuaremos tentando.
Para saber tudo sobre a Interplanetária, a motivação, a inspiração em um movimento similar italiano, a lei completa, pontos de vista diferentes, aventuras, outras fotos e relatos, entre nos links abaixo:
Mas tem a volta...veja no próximo post.
um []

Interplanetária 2ª parte - A volta

Continuando a saga.

Quando percebemos que seria muito difícil ou impossível descer pela Imigrantes,( poderia tentar descer pela estrada de manutenção com já fiz anteriormente, mas a minha bike não era apropriada para isso) eu e alguns bikers resolvemos voltar, mas nas conversas para a volta, conheci o Jeferson que dizia conhecer um caminho alternativo para Sampa por estradas rurais e pegando balsas, muito mais legal do que voltar pela rodovia, então após autorizados pela PMR pegamos a estrada sentido São Paulo e logo após passar o Mac Donalds, pegamos a estradinha de terra das fotos a seguir.
Foi o fechamento de ouro para a aventura frustrada de descer a serra, mas eu sofri com a speed nas subidas pois a relação dela é muito pesada, haja perna!!!
Fora as pedras que castigavam o pneu fino e os meus braços acostumados com amortecedor.







Foto: Bruno Gola

Mas o visual era sensacional.


Foto: Bruno Gola

Pegamos duas balsas em um ambiente bem rural, com direito a cavalos e cabras pelo caminho, além de uma infinidade de cachorros vira-lata.

O pessoal da região aproveita bem a represa, pescando, nadando ou tomando sol nas margens.


Grande visual...


Nem parece, mas já é São Paulo!!!

Foto: Bruno Gola

Abaixo, a fila da espera da segunda balsa, depois daqui o visual começa a mudar radicalmente.


A balsa leva tudo animais, carros, ônibus e ciclistas...

Aqui o grupo, partindo da esquerda: Julio Costa, Jeferson, Luciano Pacheco, Bruno Gola, Thia guinho, eu e o Rodrigo S. Primo.


O rolê acabou no extremo sul de São Paulo, saindo no Grajaú, o visual mudou radicalmente, de sítios e muito verde, para concreto e asfalto, muito trânsito caótico ...fora um monte de subidas sem espaço nenhum para bikes, terrível, mas após passarmos na casa do nosso guia o Jeferson para tomar uma água fresca e lavar o rosto, seguimos para a estação Grajaú de trem.

Fiz minha estreia de bike em vagões, desci na estação Morumbi e segui para casa feliz e cansado

depois de mais de 10 horas e 120km perambulando de bike.


Abraço