quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

LUTO / MANIFESTO DOS INVISÍVEIS

ESTOU DE LUTO!!!!


No dia 14/01/2009, foi brutalmente assassinada a ciclista Marcia Regina de Andrade Prado, cidadã brasileira e ser humano. Foi vítima de um motorista despreparado, como tantos que circulam pelas cidades com suas máquinas de matar e poluir. Não tenho mais palavras para expressar meus sentimentos...
Tudo o que tenho para falar sobre o sentimento de ser invisível, desprotegido e desrespeitado que sinto as vezes quando pedalo pela metrópole, segue no texto abaixo, que foi escrito por várias cabeças pensantes e pedalantes, leia e pense a respeito...

Manifesto dos Invisíveis

Motorista, o que você faria se dissessem que você só pode dirigir em algumas vias especiais, porque seu carro não possui airbags? E que, onde elas não existissem, você não poderia transitar?

Para nós, cidadãos que utilizam a bicicleta como meio de transporte, é esse o sentimento ao ouvir que “só será seguro pedalar em São Paulo quando houver ciclovias”, ou que “a bicicleta atrapalha o trânsito”. Precisamos pedalar agora. E já pedalamos! Nós e mais 300 mil pessoas, diariamente. Será que deveríamos esperar até 2020, ano em que Eduardo Jorge (secretário do Verde e do Meio Ambiente de São Paulo) estima que teremos 1.000 quilômetros de ciclovias? Se a cidade tem mais de 17 mil quilômetros de vias, pelo menos 94% delas continuarão sem ciclovia. Como fazer quando precisarmos passar por alguma dessas vias? Carregar a bicicleta nas costas até a próxima ciclovia? Empurrá-la pela calçada?

Ciclovia é só uma das possibilidades de infra-estrutura existentes para o uso da bicicleta. Nosso sistema viário, assim como a cidade, foi pensado para os carros particulares e, quando não ignora, coloca em segundo plano os ônibus, pedestres e ciclistas. Não precisamos de ciclovias para pedalar, assim como carros e caminhões não precisam ser separados. O ciclista tem o direito legal de pedalar por praticamente todas as vias, e ainda tem a preferência garantida pelo Código de Trânsito Brasileiro sobre todos os veículos motorizados. A evolução do ciclismo como transporte é marca de cidadania na Europa e de funcionalidade na China. Já temos, mesmo na América do Sul, grandes exemplos de soluções criativas: Bogotá e Curitiba.

Não clamamos por ciclovias, clamamos por respeito. Às leis de trânsito colocam em primeiro plano o respeito à vida. As ruas são públicas e devem ser compartilhadas entre todos os veículos, como manda a lei e reza o bom senso. Porém, muitas pessoas não se arriscam a pedalar por medo da atitude violenta de alguns motoristas. Estes motoristas felizmente são minoria, mas uma minoria que assusta e agride.

A recente iniciativa do Metrô de emprestar bicicletas e oferecer bicicletários é importante. Atende a uma carência que é relegada pelo poder público: a necessidade de espaço seguro para estacionar as bikes. Em vez de ciclovias, a instalação de bicicletários deveria vir acompanhada de uma campanha de educação no trânsito e um trabalho de sinalização de vias, para informar aos motoristas que ciclistas podem e devem circular nas ruas da nossa cidade. Nos cursos de habilitação não há sequer um parágrafo sobre proteger o ciclista, sobre o veículo maior sempre zelar pelo menor. Eventualmente cita-se a legislação a ser decorada, sem explicá-la adequadamente. E a sinalização, quando existe, proíbe a bicicleta; nunca comunica os motoristas sobre o compartilhamento da via, regulamenta seu uso ou indica caminhos alternativos para o ciclista. A ausência de sinalização deseduca os motoristas porque não legitima a presença da bicicleta nas vias públicas.

A insistência em afirmar que as ruas serão seguras para as bicicletas somente quando houver milhares de quilômetros de ciclovias parece a desculpa usada por muitos motoristas para não deixar o carro em casa. “Só mudarei meus hábitos quando tiver metrô na porta de casa”, enquanto continuam a congestionar e poluir o espaço público, esperando que outros resolvam seus problemas, em vez de tomar a iniciativa para construir uma solução.

Não podemos e não vamos esperar. Precisamos usar nossas bicicletas já, dentro da lei e com segurança. Vamos desde já contribuir para melhorar a qualidade de vida da nossa cidade. Vamos liberar espaços no trânsito e não poluir o ar. Vamos fazer bem para a saúde (de todos) e compartilhar, com os que ainda não experimentaram, o prazer de pedalar.

Preferimos crer que podemos fazer nossa cidade mais humana, do que acreditar que a solução dos nossos problemas é alimentar a segregação com ciclovias. Existem alternativas mais rápidas e soluções que serão benéficas a todos, se pudermos nos unir para construirmos juntos uma cidade mais humana.

A rua é de todos. A cidade também.

Nós, ciclistas, que também somos o trânsito


:Alberto PellegriniAlexandre AfonsoAlexandre CatãoAlexandre Loschiavo (Sampabiketour)Alex Gomes ( U-Biker )Ana Paula Cross Neumann (Aninha)André Pasqualini (CicloBR)Antonio Lacerda Miotto (Pedalante)Aylons HazzudAyrton Sena Santos do NascimentoBruno Canesi MorinoBruno GolaBoneyCarolina SpillariCélia Choairy de MoraesChantal Bispo (Eu vou voando)Chico MacenaDaniel Ingo Haase (FAHRRAD)Daniel AlbuquerqueEduardo Marques Grigoletto (CicloAtivando)Fabrício Zuccherato (pedal-driven)Flávio “Xavero” CoelhoFelipe Aragonez (Falanstérios)Felipe Martins Pereira RibeiroFernando Guimarães NorteGustavo Fonseca MeyerHélio Wicher NetoJoão Guilherme LacerdaJosé Alberto F. MonteiroJoão Paulo Pedrosa (Malfadado - PT)José Paulo Guedes (EcoUrbana)Juliana MateusLaércio Luiz MunizLeandro Cascino RepolhoLeonardo Cuevas (XpK)Leandro ValverdesLucien ConstantinoLuis Sorrilha (BIGSP)Luiz Humberto Sanches FariasMarcelo Império GrilloMárcia Regina de Andrade PradoMárcio CamposMariana Cavalcante (Gira-me)Mário Canna PiresMatias Mignon MickenhagenMathias FingermannMila MolinaOtávio RemedioPaula CinquettiPolly RosaRicardo Shiota YasudaRodrigo Sampaio PrimoRonaldo ToshioSilvio TambaraThiago Benicchio (Apocalipse Motorizado)Vado Gonçalves (cicloativismo)Vitor Leal Pinheiro (Quintal)Willian Cruz (Vá de Bike!)